Jorge dobrou o papel, lentamente, em duas em quatro dobras, atirou-o para cima da mesa, disse alto:
- Sim, senhor! bonito!
Encheu o cachimbo de tabaco maquinalmente, com os olhos vagos, os beiços a tremer: deu alguns passos incertos pelo escritório: - De repente arremessou o cachimbo que despedaçou um vidro da janela, bateu com as mãos desvairado, e atirou-se de bruços para cima da mesa, rompeu a chorar, rolando a cabeça entre os braços, mordendo as mangas, batendo com os pés, louco!
Ergueu-se subitamente, agarrou a carta, ia com ela à alcova de Luísa. Mas a lembrança das palavras de Julião imobilizou-o: que esteja sossegada, nada de frases, nenhuma excitação! Fechou a carta numa gaveta, meteu a chave na algibeira. E de pé, a tremer, com os olhos raiados de sangue, sentia ideias insensatas alumiarem-lhe o cérebro, como relâmpagos numa tormenta - matá-la, sair de casa, abandoná-la, fazer saltar os miolos... (394)
Contexto interno
Contexto interno
Desde a morte de Juliana, Luísa tem andado com umas febres esquisitas que aparecem e desaparecem. Chegou uma carta de França para Luísa; e Jorge, embora com alguns problemas de consciência, abriu-a! Era a carta de Basílio em resposta ao pedido de dinheiro de Luísa para pagar a Juliana, na qual Basílio recorda o Paraíso, os encontros amorosos, o lunch, o seu amor.
Perspectivas
Decadência
Decadência
Jorge, ao ler a carta de Basílio, toma consciência da degradação moral em que Luísa caíra durante a sua ausência e fica revoltado.
Aparência/realidade
Aparência/realidade
Jorge que sempre aparecera como um indivíduo calmo e sensato, ao tomar contacto com a realidade do que ocorrera na sua ausência, descontrola-se e movido pela raiva chega a pensar em matar Luísa.
Ordem/desordem
Ordem/desordem
A sua mulher traíra os valores do matrimónio introduzindo a desordem. A primeira solução que ocorre a Jorge, no sentido de repor a ordem matrimonial é puni-la matando-a ou abandonando-a ou mesmo punir-se matando-se. Qualquer uma destas saídas introduziria nova desordem.