Não fora culpa sua. Não abrira os braços a Basílio voluntariamente!... Tinha sido uma fatalidade: fora o calor da hora, o crepúsculo, uma pontinha de vinho talvez... Estava douda, decerto. E repetia consigo as atenuações tradicionais: não era a primeira que enganara seu marido; e muitas era apenas por vício, ela fora por paixão... Quantas mulheres viviam num amor ilegítimo e eram ilustres, admiradas! Rainhas mesmo tinham amantes. E ele amava-a tanto!... Seria tão fiel, tão discreto! As suas palavras eram tão cativantes, os seus beijos tão estonteadores!... E enfim que lhe havia de fazer agora? Já agora!...
E resolveu ir responder-lhe. Foi ao escritório. Logo ao entrar o seu olhar deu com a fotografia de Jorge [...]. Uma comoção comprimiu-lhe o coração; ficou como tolhida. (175)
Contexto interno
Contexto interno
Luísa levantara-se tarde na sequência de excesso da véspera. Lera e relera o bilhete amoroso que Basílio compusera premeditadamente “depois de alguns robbers de whist, um bife, dois copos de cerveja” (p.172). Luísa teve requintes de higiene nessa manhã. Almoçou muito bem, mas de tarde não se concentrava em nada de tão feliz que estava por ter um amante.
Perspectivas
Atmosfera romântica
Atmosfera romântica
Luísa está feliz por ter um amante e, não assumindo os seus actos, responsabiliza o fado pelo que lhe aconteceu, tratando, "já agora", de se deleitar com a infidelidade.
Decadência
Decadência
Inicia-se assim o processo da sua decadência. Luísa tenta desculpar-se com a banalização do adultério, mesmo na aristocracia. Ela é a “courtisane” de Basílio, na acepção bipolar proposta por Proudhon, não por vício, pretende ela, mas por paixão.
Aparência e realidade
Aparência e realidade
O adultério surge como distracção para Luísa, como alternativa ao tédio em que se encontrava antes do primo aparecer. Ela sente-se atraída pela palavra mágica que lhe domina a imaginação: paixão.
Parecia a Luísa que Basílio a amava de facto, que estava apaixonado e seria "discreto" e "fiel".
Ordem/desordem
Ordem/desordem
A fotografia de Jorge representa a ordem, o respeito pelos deveres. Luísa ao vê-lo sente-se comprometida, tem medo, mas logo considera tudo tolices. Afinal Jorge só viria daqui a um mês!
Romance de tese
Romance de tese
O narrador confronta o leitor com o mundo íntimo de Luísa, tentando desvendar as motivações psico-sociais para o seu comportamento adúltero.
Eça esclarece em outra obra a expressão “ter um amante”: “Para a generalidade das mulheres - ter um amante significa - ter uma quantidade de ocupações, de factos, de circunstâncias a que, pelo seu organismo e pela sua educação, acham um encanto inefável. Ter um amante - não é para elas abrir de noite a porta do seu jardim. Ter um amante é ter a feliz, a doce ocasião destes pequeninos afazeres - escrever cartas às escondidas, tremer e ter susto; fechar-se a sós para pensar, estendida no sofá; ter o orgulho de possuir um segredo; ter aquela ideia dele e do seu amor, acompanhando como uma melodia em surdina todos os seus movimentos, a toilette, o banho, o bordado, o penteado...” (Queirós, Uma Campanha Alegre, II: 203).