Se ele a quisesse levar para longe, para França, iria? Não! Se por um acaso, por uma desgraça enviuvasse, antevia alguma felicidade casando com ele? Não!
Mas então!... E como uma pessoa que destapa um frasco muito guardado, e se admira vendo o perfume evaporado, ficou toda pasmada de encontrar o seu coração vazio. O que a levara para ele?... Nem ela sabia; não ter nada que fazer, a curiosidade romanesca e mórbida de ter um amante, mil vaidadezinhas inflamadas, um certo desejo físico... E sentira-a, porventura, essa felicidade, que dão os amores ilegítimos, de que tanto se fala nos romances e nas óperas, que faz esquecer tudo na vida, afrontar a morte, quase fazê-la amar? Nunca! Todo o prazer que sentira ao princípio, que lhe parecera ser o amor - vinha da novidade, do saborzinho delicioso de comer a maçã proibida, das condições de mistério do Paraíso, de outras circunstâncias talvez, que nem queria confessar a si mesma, que a faziam corar por dentro!
Mas que sentia de extraordinário agora ? Bom Deus, começava a estar menos comovida ao pé do seu amante, do que ao pé do seu marido! (214-215)
Contexto interno
Contexto interno
As relações de Basílio e Luísa vão esfriando. Basílio torna-se cada vez menos atencioso com Luísa: "Trocado o último beijo, acendia o charuto como num restaurante ao fim do jantar! E ia [...] dar uma penteadela no cabelo com um pentezinho de algibeira! (O que ela odiava o pentezinho!) Às vezes até olhava o relógio!" (p.212)
Perspectivas
Tédio
Tédio
Luísa toma consciência de que o ócio que a envolvia fora uma das molas impulsionadoras do adultério, que lhe surgira como um excitante e uma ocupação para as longas horas vazias.
Decadência
Decadência
A “paixão” fora uma idealização, uma ilusão criada por Luísa, a partir das leituras e do ambiente. Da "paixão", comparada a um frasco de perfume bem guardado, restava nada, um frasco vazio.
Aparência/realidade
Aparência/realidade
A ilusão amorosa de Luísa termina quando Basílio passa do mundo feito de aparências do processo de sedução para o da realidade rotineira. E Luísa apercebe-se que o "que lhe parecera ser o amor" era apenas advindo de circunstâncias várias.
Intertextualidade
Intertextualidade
O narrador mais uma vez convoca intertextualmente a arte romântica (romances, óperas) como motivadora dos comportamentos de Luísa.
Ironia
Ironia
A ironia decorre do facto de Luísa, enfim, descobrir que a perturba mais o marido que o amante.
Romance de Tese
Romance de Tese
O romance de tese tem uma finalidade moralista e de intervenção social. Através da reflexão de Luísa o narrador pretende alertar o leitor para o perigo da ociosidade, da educação romanesca e da curiosidade relativamente ao adultério, pretendendo que ele transfira a aprendizagem da protagonista para um contexto social mais amplo.