Saltar navegação

Minicaso 3 - Um obrigado já chega!

Normativa

Avaliemos o extrato em questão considerando ambos os autores em estudo. Kant dirá que o que realmente interessa para a avaliação da ação dos funcionários é a intenção que presidiu ao ato. Podemos afirmar que os funcionários ao devolverem o dinheiro que encontraram numa primeira leitura fizeram-no com intenção de cumprir o seu dever. Todavia, ao manifestarem que apenas um simples agradecimento chegava já nos coloca outra questão adicional que inicialmente nos poderia escapar e que se prende com a questão da intenção.

 Em Kant as ações têm apenas de ser executadas unicamente pelo sentido de dever, assim, o simples facto de esperar um agradecimento já não coloca esse sentido de cumprimento do dever acima de tudo, redundando o motivo da ação no seu reconhecimento por parte de outrem, dito de outro modo, esta ação dos funcionários não tem qualquer valor moral para Kant.

Já para Stuart Mill esta seria uma ação com valor moral, uma vez que este é exclusivamente determinado pelas suas consequências. Neste extrato as consequências foram boas para todos os envolvidos, logo, a ação protagonizada pelos funcionários teve o mérito de promover a felicidade para o maior número, razão pela qual se justifica o agradecimento e a distinção com que os funcionários foram recompensados.

 

 

Deontológica

O extrato “um obrigado já chega!” remete para uma distinção importante na filosofia kantiana, a saber: moralidade e legalidade (que não são conceitos sinónimos).

 A moralidade caracteriza-se pelas ações realizadas por dever, já a legalidade assenta nas ações conformes ao dever, mas que podem, por exemplo ter sido realizadas orientadas exclusivamente por fins tendencialmente egoístas ou por motivos menos abonatórios. Por isso, Kant enfatiza a ideia de que o valor de uma ação deve residir na intenção que preside à realização da ação e que esta deve ser pura.

Em rigor, todos conhecemos as regras que devemos cumprir, mas o simples cumprimento visando um fim exterior à ação não coloca no centro da análise a verdadeira essência do ato moral, já que o que orienta essa ação pode ser um interesse pessoal, um desejo de obter algo ou meramente uma inclinação. Nada disto tem valor moral para Kant, apenas tudo aquilo que é motivado exclusivamente pelo puro respeito pela lei.  No excerto um funcionário afirma: “quem for o dono do dinheiro se nos quiser gratificar com um obrigado, para nós já nos chega!” ora, tal afirmação mostra-nos que este simples “obrigado” já remete o fim da ação para um desejo de reconhecimento.

 A moralidade no sentido kantiano é, pois, um conjunto de regras que o agente moral deve seguir, independentemente dos seus desejos e interesses particulares.