- Desta vez é que bem posso dizer que me enganei, minha rica filha! - exclamou Leopoldina erguendo os olhos desoladamente.
Luísa riu.
- Tu enganas-te quase sempre!
Era verdade! Era bem infeliz!
- Que queres tu? De cada vez imagino que é uma paixão, e de cada vez me sai uma maçada!
E picando o tapete com a ponta da sombrinha:
- Mas se um dia acerto!
- Vê se acertas - disse Luísa. Já é tempo!
Às vezes na sua consciência achava Leopoldina “indecente”; mas tinha um fraco por ela: sempre admirara muito a beleza do seu corpo, que quase lhe inspirava uma atracção física. Depois desculpava-a: era tão infeliz com o marido! Ia atrás da Paixão, coitada! E aquela grande palavra, faiscante e misteriosa, donde a felicidade escorre como a água de uma taça muito cheia, satisfazia Luísa como uma justificação suficiente: quase lhe parecia uma heroína; e olhava-a com espanto como se consideram os que chegam de uma viagem maravilhosa e difícil, de episódios excitantes. Só não gostava de certo cheiro de tabaco misturado de feno que trazia sempre nos vestidos. Leopoldina fumava. (27-28)
Contexto Interno
Contexto Interno
Leopoldina era a amiga íntima de Luísa, tinha 27 anos e passava por ser a mulher mais bem feita de Lisboa. Em solteiras haviam sido vizinhas e frequentado o mesmo colégio.
Leopoldina casara com um empregado da Alfândega, mas era infeliz. Devido ao seu comportamento, saltando de um adultério para outro, era conhecida por a "Quebrais", a "Pão e Queijo". Jorge não queria vê-la a frequentar a sua casa: "Tudo, menos a Leopoldina".
Perspectivas
Atmosfera Romântica
Atmosfera Romântica
Leopoldina procura constantemente a felicidade através dos seus amantes, deixando-se arrastar por cada nova paixão que, não a satisfazendo, torna-se “uma maçada”. Esta procura constante da Paixão vai fazer com que Luísa encare a amiga como uma heroína romântica, lutadora, temerosa, vivendo em clima misterioso felicidades para ela desconhecidas, apenas semelhantes às das protagonistas dos romances que lia.
Decadência
Decadência
Leopoldina encarna o donjuanismo feminino. Tem-se nela as sucessivas etapas das conquistas donjuanescas, do enlevo à posse, e daí ao fastio (Berrini, 1984).
Leopoldina caracteriza-se por uma certa libertinagem de costumes, essencialmente morais, que Luísa condenava embora desculpando a amiga por ser infeliz.
Aparência/Realidade
Aparência/Realidade
Leopoldina, depravada moralmente, assumia os seus actos, não se refugiando na aparência. Contudo, isso custa-lhe a rejeição social, designadamente por parte do marido de Luísa, e a alcunha de “a Pão e Queijo” e “a Quebrais”.
Ordem/Desordem
Ordem/Desordem
Leopoldina desafia a sociedade ao revelar-se adúltera descaradamente, sem pudor. Ela apresenta uma personalidade não padronizada que se rebela contra o modelo social imposto e, por isso, tem gestos e acções tidos à época por tipicamente masculinos: vida sexual livre, hábito de fumar e linguagem não preconceituosa (Berrini, 1984). Não se ajustando aos padrões morais e sociais dominantes é marginalizada.
Romance de Tese Naturalista
Romance de Tese Naturalista
Caracterização de Leopoldina e da influência perniciosa sobre Luísa