Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir a casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse, não havia de gostar, não!
Mas estava tão farta de estar só! Aborrecia-se tanto! De manhã, ainda tinha os arranjos, a costura, a toilette, algum romance... Mas de tarde!
À hora em que Jorge costumava voltar do Ministério, a solidão parecia alargar-se em torno dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade: sentava-se ao piano, e os fados tristes, as cavatinas apaixonadas gemiam instintivamente no teclado, sob os seus dedos preguiçosos, no movimento abandonado dos seus braços moles. O que pensava em tolices então! (...)
Não estava acostumada, não podia estar só. (59)
Contexto Interno
Contexto Interno
Jorge, engenheiro de minas, deslocara-se, em pleno Verão, ao Alentejo, em serviço.
Perspectivas
Atmosfera romântica
Atmosfera romântica
Luísa, de manhã ocupava-se, mas ao fim do dia deixava-se envolver pela solidão e pela sentimentalidade, tocando músicas tristes e apaixonadas e caindo em devaneios tolos.
Tédio
Tédio
Luísa não tinha nada que fazer: as empregadas tratavam da casa e filhos com que se ocupar não tinha (Lopes, 1990). A sua função de esposa também não a estava a ocupar, porque Jorge se ausentara em trabalho para o Alentejo (Serrão, 1962). A tarde era particularmente difícil de ser preenchida, o aborrecimento e a preguiça dominavam-na.
Ordem/Desordem
Ordem/Desordem
Para contornar a solidão, Luísa desafia a vontade do marido decidindo ir visitar a amiga Leopoldina.
Romance de Tese
Romance de Tese
Caracterização da vivência ociosa e vazia da personagem. A total desocupação e a quebra da rotina levam-na a procurar o que não deve.