2. O Processo de Sedução

Ícone iDevice 5. A cena da confeitaria

- Ia a tua casa, homem! - disse Sebastião logo.

Julião estranhou a excitação desusada da sua voz.

Havia alguma novidade? Que era?

- Uma do diabo! - exclamou, baixo, Sebastião.

Estavam parados ao pé da confeitaria. Na vidraça, por trás deles (...) Velhas natas lívidas amolentavam-se no oco dos folhados; ladrilhos grossos de marmelada esbeiçavam-se ao calor, as empadinhas de marisco aglomeravam as suas crostas ressequidas. E no centro, (...) enroscava-se uma lampreia de ovos medonha e bojuda, (...) a boca escancarada: na sua cabeça grossa esbulhavam-se dois horríveis olhos de chocolate; e os dentes de amêndoa ferravam-se numa tangerina de chila; e em torno do monstro espapado moscas esvoaçavam. [Sebastião conta a Julião que Basílio namorara com Luísa e agora visita-a frequentemente.]

-Mas isso é o enredo da Eugénia Grandet, Sebastião! Estás-me a contar o romance de Balzac! isso é a Eugénia Grandet ! (...)

[Julião] Riu-se. Estava radioso; as palavras, as pilhérias vinham-lhe com abundância:

- Há um marido que a veste, que a calça, que a alimenta, que a engoma, que a vela se está doente, que a atura se ela está nervosa, que tem todos os encargos, todos os tédios, todos os filhos, todos, todos os que vierem, sabes a lei... Por consequência o primo não tem mais que chegar, bater ao ferrolho , encontra-a asseada, fresca, apetitosa à custa do marido, e ... (...)

- Todos os primos raciocinam assim. Basílio é primo, logo ... sabes o silogismo , Sebastião! Sabes o silogismo, menino! - gritou, dando-lhe uma palmada na perna. (129-132)


Contexto interno
   
Contexto referencial
   

 

Perspectivas

Indícios/Símbolos
   
Decadência
   
Aparência/realidade
   
Intertextualidade
   
Ironia
   
Romance de tese