4. A Ética Burguesa: A Chantagem

Ícone iDevice 2. A fuga

[Luísa] Contou-lhe a história da carta apanhada nos papéis, as dele roubadas, a cena no quarto... O que me resta é fugir. Aqui estou leva-me. Tu disseste que podias, tens-lo dito muitas vezes. Estou pronta. Trouxe aquele saco, com o necessário, lenços, luvas... hein?

Basílio com as mãos nos bolsos, fazendo tilintar o dinheiro e as chaves, seguia atónito os seus gestos, as suas palavras.

- Isso só a ti! - exclamou. - Que douda! Que mulher!

- E muito excitado: - Isso é lá questão de fugir! Que estás tu a falar em fugir? É uma questão de dinheiro. O que ela quer é dinheiro. É ver quanto quer, e pagar-se-lhe!

- Não, não! - fez Luísa. Não posso ficar! - Tinha uma aflição na voz. A mulher venderia a carta, mas conservava o segredo: a todo o tempo podia falar, Jorge saber: estava perdida, não tinha coragem de voltar para casa! [...] Se ele sabe, mata-me, Basílio! Sim, dize que sim! - Agarrara-se a ele, procurava avidamente com os seus olhos o consentimento dos dele.

Basílio desprendeu-se brandamente:

- Estás douda, Luísa, tu não estás em ti! Pode lá pensar-se em fugir? Era um escândalo atroz, éramos apanhados decerto, com a polícia, com os telégrafos! É impossível! Fugir é bom nos romances! E depois, minha filha, não é um caso para isso! É uma simples questão de dinheiro... (244)


Contexto interno
   

 

Perspectivas

Decadência
   
Aparência/realidade
   
Ordem/desordem
   
Intertextualidade
   
Ironia
   
Romance de tese