4. A Ética Burguesa: A Chantagem

Ícone iDevice 6. No jantar do Conselheiro

Julião, sempre curioso, observou, surpreendido, duas grandes litografias aos lados da cama - um Ecce Homo! e a Virgem das Sete Dores. O quarto era esteirado, o leito baixo e largo. Abriu então a gavetinha da mesa de cabeceira, e viu, espantado, uma touca e o volume brochado das poesias obscenas de Bocage! Entreabriu os cortinados fechados; e teve a consolação de verificar, - que havia sobre o travesseiro duas fronhazinhas chegadas de um modo conjugal e terno! (...)

- E é o que eu admiro, Conselheiro - observou Julião - é que tendo uma casa tão confortável, não se tenha casado, não se tenha dado o aconchego de uma senhora...

Todos apoiaram. Era verdade! O Conselheiro devia-se ter casado.

- São graves, perante Deus e perante a sociedade, as responsabilidades de um chefe de família - considerou ele.

Mas enfim - disseram - é o estado mais natural. E depois, que diabo, às vezes havia de se sentir só! E numa doença! Sem contar a alegria que dão os filhos!...

O Conselheiro objectou: "os anos, as neves da fonte..." (...)

- Porque enfim, Conselheiro, a natureza é a natureza! - disse Julião com malícia.

Ora qual! Era um fogo que nunca se extinguia! Que diabo! Era impossível que o Conselheiro, apesar dos seus cinquenta e cinco, fosse indiferente a uns belos olhos pretos, a umas formazinhas redondas!...

O Conselheiro corava. (314-315; 320-321)


Contexto interno
   
Contexto referencial
   

 

Perspectivas

Indícios /símbolos
   
Decadência
   
Aparência/realidade
   
Ironia
   
Romance de Tese