4. A Ética Burguesa: A Chantagem

[Aguardavam a chegada do Castro para arranjar o dinheiro para Luísa.]
-Que Videira?- perguntou Luísa.
- Uma alta, de nariz grande que tem um landau.
- Mas passa por uma mulher tão séria...
- Já tu vês! - E com um risinho: - Ai elas passam, passam. Lá passar, passam. A questão é conhecer-lhes os podres, minha fidalga!
E barrando de manteiga grandes fatias de pão, pôs-se a falar complacentemente dos escândalos de Lisboa, a desdobrar o sudário: citava nomes, especialidades, as que depois de terem "feito o diabo", gastam, numa devoção tardia, o resto de uma velha sensibilidade; que é por onde elas acabam, algumas é pelas sacristias! (...)
Exagerava muito; mas odiava-as tanto! Porque todas tinham, mais ou menos, sabido conservar a exterioridade decente que ela perdera, e manobravam com habilidade, onde ela, a tola, tivera só a sinceridade! E enquanto elas conservavam as suas relações, convites para soirées, a estima da corte - ela perdera tudo, era apenas a Quebrais!... (336-337)
Perspectivas