E todas as noites Juliana fechada no seu quarto, encruzada na esteira, inchada de alegria, com o candeeiro sobre uma cadeira, desmarcava roupa, desfazendo as duas letras de Luísa, marcando regaladamene nas suas, a linha vermelha, enormes - J.C.T. -, Juliana Couceiro Tavira!
Mas enfim cessou, como ela dizia, “de roupa branca estava como um ovo”.
- Agora, se a senhora me quiser ajudar com alguma coisa para sair...
E Luísa começou a vesti-la.
Deu-lhe um vestido roxo de seda, um casaco de casimira preta, com bordados a soutache. E receando que Jorge estranhasse as generosidades, transformava-as para ele as não reconhecer: mandou tingir de castanho o vestido, ela mesmo por sua mão pôs uma guarnição de veludo no casaco. Trabalhava para ela, agora! - Como acabaria tudo aquilo, santo Deus? (296)
Contexto interno
Contexto interno
Juliana, depois de ter obtido a mudança para o quarto dos baús, pede uma esteira, uma cómoda, camisas.
Contexto referencial
Contexto referencial
"soutache" - galões para aplicar nos uniformes militares e nas roupas de senhora.
Perspectivas
Indícios/símbolos
Indícios/símbolos
Juliana “desmarcava” as iniciais de Luísa nas roupas e marcava as suas o que simboliza a inversão de papéis.
Decadência
Decadência
A decadência de Luísa acentua-se. À submissão, relativamente à chantagem de Juliana, associa-se a humilhação de fazer arranjos para a criada, às escondidas do marido.
Aparência/realidade
Aparência/realidade
Luísa, preocupada com que tudo parecesse normal, transforma as roupas que dá a Juliana para Jorge não desconfiar de tanta generosidade. Contudo, Luísa sentia-se revoltada.
Ordem/desordem
Ordem/desordem
Só aparentemente a ordem se mantinha naquela casa. Juliana instaurara a desordem ao tornar Luísa vítima de um medo duplo: de que Juliana falasse e de que Jorge desconfiasse.