Ironia

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A ironia tem um carácter duplo ao implicar a atitude do autor-codificador em relação ao próprio texto e a atitude do leitor-decodificador ao interpretar o texto que lê (Lima, 1987). Jankélévitch distingue entre ironia negativa e ironia positiva, referindo que esta se afirma como forma de combate, acredita na acção, procura mudar o mundo (Lima, 1987). Cremos que é este o tipo de ironia que Eça utiliza, nesta obra, uma ironia socrática ao pretender chamar à atenção dos portugueses para aquilo que estava mal, servindo-se do riso como salvação (Queirós,Uma Campanha Alegre, I: 15).

“Queremos fazer a fotografia, ia quase a dizer a caricatura, do velho mundo burguês, sentimental, devoto, católico, explorador, aristocrático, etc; e apontando-o ao escárnio, à gargalhada, ao desprezo do mundo moderno e democrático - preparar a sua ruína.” (carta de Eça de Queirós a Rodrigues de Freitas de 30-3-1878).

A ironia de Eça de Queirós reveste três formas preponderantes: o emprego de palavras ou de associações de palavras imprevistas, a concretização de abstracções e, sobretudo, a comparação pitoresca de coisas sérias e elevadas com factos vulgares concretos (Boléo, 1941).